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Falência do Silicon Valley Bank e do Signature Bank: o que esses eventos dizem sobre o futuro da economia?

Os últimos meses foram marcados por alta nos juros e muitas incertezas quanto ao cenário econômico global. A recente quebra de dois grandes bancos americanos aumentou a tensão e a expectativa por uma possível recessão de proporções mundiais.

A falência do Silicon Valley Bank e do Signature Bank para muitos é um dos esperados sintomas de uma inevitável crise. Mas é preciso compreender o que aconteceu para avaliar o possível impacto às atividades de outras instituições bancárias.

O banco das startups

Localizado na região do Vale do Silício, na Califórnia, O SVB era uma das principais instituições a fornecer crédito para startups e empresas de tecnologia. Era considerado o 16º maior banco dos EUA pelo Fed (o banco central americano) e em 2021 declarou que 50% das startups de risco nos EUA tinham no Silicon Valley Bank sua principal instituição financeira.

De acordo com Alexandre Cancherini em entrevista à InfoMoney o SVB possuía uma grande captação de recursos através de depósitos. E segundo o especialista, a resposta de um banco quando há muita liquidez é conceder empréstimos e investir em títulos.

Mas como a pandemia de Covid-19 freou os investimentos em muitas áreas e, portanto, as solicitações de crédito, o banco direcionou sua gestão à compra de títulos. Agora, com o aumento dos juros, os investidores que antes faziam grandes depósitos, passaram a fazer grandes saques.

Cancherini explica que para cobrir a movimentação, o Silicon Valley Bank foi obrigado a vender muitos títulos com baixo retorno. Desta maneira, formou-se o déficit que levou à sua quebra. O mesmo fenômeno se repetiu com o Signature Bank, que teve o mesmo destino.

Um efeito cascata com potencial para agravar a crise

O fato é que duas falências de grandes bancos em períodos tão próximos e em um ambiente econômico instável pode ser o estopim para um efeito cascata que vai agravar a situação dos mercados. Com a insegurança no cenário econômico, clientes de bancos de todo o mundo iniciaram um processo de retiradas de suas contas e aplicações.

Um possível movimento massificado de fuga das instituições bancárias teria como resultado inevitável a falência de mais bancos, provocando um efeito dominó implacável para a economia global. Não à toa, o presidente Biden se pronunciou sobre o assunto, afirmando categoricamente que os depósitos dos clientes bancários dos EUA estão seguros.

Nas palavras de Biden: “Os americanos podem confiar que o sistema bancário é seguro. Seus depósitos estarão lá quando você precisar deles”

Buscando restabelecer a confiança dos investidores no sistema bancário americano, em sua fala, Biden fez referência indireta a algumas das ações de segurança implementadas após a recessão alavancada pela bolha imobiliária americana.

As lições aprendidas com a Crise do Subprime em 2008

A bolha imobiliária que estourou nos EUA em 2008, conhecida como Crise do Subprime, impactou países de todo o mundo e teve gravíssimas consequências para os EUA, que em 2012 ainda tinha uma dívida pública de 103% do seu PIB. Por isso, durante sua recuperação o país instituiu uma série de ações para proteger bancos, clientes e investidores, como:

  • Criação de uma agência de proteção dos direitos do consumidor no setor financeiro, o Consumer Financial Protection Bureau (CFPB);
  • Realização periódica e obrigatória de “testes de estresse” nos maiores bancos dos EUA, para avaliar se eles dispõem de recursos para sobreviver a grandes crises;
  • Proibição às instituições bancárias de realizar investimentos especulativos que não proporcionem benefícios a seus clientes, com a Regra de Volcker;
  • Criação do Financial Stability Oversight Council (FSOC), um órgão com autoridade para monitorar riscos e prevenir um colapso de grandes bancos interdependentes em efeito cascata.

Ou seja, o sistema americano está preparado com inúmeros instrumentos para evitar o alastramento de uma crise ao longo de todo o seu sistema bancário. Daí o pedido de Biden para que os investidores mantenham a confiança e não retirem seus ativos de suas instituições bancárias.

Um dos movimentos que confirmam a disponibilidade de instrumentos para evitar a quebra de mais bancos foi a injeção de cerca de 30 bilhões em liquidez no First Republic Bank. O socorro foi prestado por um conjunto de 11 bancos dos Estados Unidos, que emitiram comunicado informando que a ação seria um reflexo da confiança das instituições no sistema bancário americano.

No mesmo caminho, mas em outro continente, o Credit Suisse recebeu apoio que pode chegar a 50 bilhões de francos suíços (equivalente a mais de 53 bilhões de dólares). A falência da instituição culminou com sua venda, cujo resultado será a formação do maior conglomerado bancário da Europa desde a Crise do Subprime.

Se o cenário se estabilizar e os investidores mantiverem seus ativos nos bancos onde estão depositados, a expectativa é de que a falência do Silicon Valley Bank, do Signature Bank e a injeção de recursos em outras instituições bancárias não acelere o surgimento de uma recessão global.

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